Entrevista com Geraldo Seabra, criador da Teoria dos Newsgames

No último post sobre newsgame apresentamos a Teoria dos Newsgames, de autoria do jornalista Geraldo Augusto Seabra. Mestre em Comunicação, Estudos Midiáticos e Tecnologia (Unipac/Juiz de Fora), pós-graduado em Comunicação Contemporânea e Informação Visual (PUC-MG) e professor de jornalismo da Unipac/Lafaiete, Seabra propõe um novo modo de fazer jornalismo, em que os games funcionariam como uma plataforma de notícias. Confira na sequência uma entrevista que aborda algumas dúvidas que surgiram a partir da Teoria dos Newsgames.

De onde surgiu o seu interesse de estudar games e jornalismo?

Tudo começou a partir de meus questionamentos em relação aos modelos atuais de jornalismo online, cujos suportes não coadunariam mais com os novos leitores de notícia, cada vez mais imersos em redes sociais onde ocorrem trocas incessantes de informação de interesse comum.

Além disso, o modelo tradicional de jornalismo também não está mais dando conta da demanda exponencial por informação a partir do advento da Sociedade em Rede.

A terceira questão tem a ver com o suporte dos games em si. São os únicos suportes midiáticos a emularem todas as linguagens humanas: oralidade (áudio), escrita (roteiro, indicações), imagem (foto, desenho - fixa e animada).

Portanto, é a melhor base narrativa existente por promover a convergência de linguagens e de todos os outros suportes midiáticos (jornal impresso, rádio, cinema, TV, Internet).

O que é a Teoria dos NewsGames?

Na etimologia da palavra, os termos ‘news’ e ‘games’ advêm do inglês, que significam ‘notícia’ e ‘jogos’ em português, respectivamente. A junção dos dois termos tem uma preocupação comercial, uma vez que o assunto era – e ainda continua sendo – bastante desconhecido pela maioria das pessoas.

Conceitualmente, newsgames são games baseados em notícia ou acontecimento em tempo real. Portanto, só funciona em plataforma on-line, com uso de agregadores de conteúdo baseados na tecnologia RSS.

Um newsgame desenvolvido com base na sua teoria pode ser considerado outra forma de jornalismo colaborativo?

Mais do que isso. Pelas Tétrades dos NewsGames, as questões sobre o jornalismo tradicional, cooperativo e comunitário são relativizadas. A Teoria dos NewsGames pensa o jornalismo como Nano-agenciamento social , através de suportes ludicidade é algo imanente do meio. Ou seja, o lúdico como suporte de mediação da informação de interesse para nano-leitores-autores do processo produtivo da notícia.

Qual a contribuição que ela traz ao (web)jornalismo atual?

Inúmeras! Em primeiro lugar, obsolesce a notícia de conteúdo vazio, um dos principais motivos do jornalismo tradicional e aquele produzido na WEB. Em segundo, estimula o surgimento dos gamers-jornalistas – Jornalismo 4.0.

Qual o papel do jornalista em um game baseado nessa teoria?

O seu papel essencial é servir de agenciador da informação que interesse, assim como busco fazer no blog Target NewsWeek (http://targetnewsweek.blogspot.com/), onde são selecionadas apenas notícias que podem fazer a diferença na vida de um maior número possível de pessoas.

Por que a Teoria dos Newsgames daria certo no Brasil?

Idealizamos a Teoria dos NewsGames como um pressuposto conceitual para agenciar uma prática. Mas como todos sabem o mercado dita as suas leis...

Você acha viável a criação de um game de RPG (como consta em um dos seus artigos) em pouco tempo? Esses jogos são complexos e geralmente duram alguns anos para ficarem prontos. O fato noticioso não poderia se perder no tempo?


Não creio. Os jogos de RPG servirão de inspiração para estruturação da Teoria dos NewsGames. Ou seja, a sua narrativa, como os demais estilos narrativos de jogos eletrônicos (expositiva, ambiental e cinematográfica e, agora a narrativa dos NewsGames), compõe a complexidade do recém-criado estilo narrativo tendo a notícia como base narrativa.

O que você quer dizer com "subversão da edição"? Talvez hoje, essa seja uma das principais funções do jornalista. Ela será deixada de lado?

Acho que você deve estar falando da “subversão da Pirâmide Invertida”...Se esse for o caso, reafirmo que a técnica de narrar do mais importante para o menos relevantes não coaduna com o ambiente hipertextual on-line. Na nossa concepção e de vários autores, a Pirâmide Invertida vai continuar existindo, mas não como principal motor narrativo da notícia. A Teoria dos NewsGames preconiza a interatividade em suportes lúdicos de comunicação e de forma horizontalizada, por meio de redes de nano-audiências de leitores/produtores de notícia. Não cabe mais editar a notícia de forma hierarquizada, partindo que o gatekeeper acha mais interessante. Há coisas mais interessantes que o lide de uma notícia. Por exemplo: a notícia-reportagem de Anízio Viana. Acesse em: http://escrevoaovivo.blogspot.com/

Você acha que as tecnologias disponíveis hoje permitem que qualquer pessoa crie o seu próprio jogo?

Claro! O chamado 'cloud computing', ou 'computação nas nuvens', é um conceito, que irá alterar a nossa percepção retangular das coisas. O computador tradicional (com monitor, mouse e teclado) já era. No futuro próximo, as fotos da família, os vídeos, a planilha com as contas da empresa, os textos, enfim... Virtualmente, tudo vai pairar sobre nós. Você acessa seus dados de qualquer computador, em qualquer lugar. E mais do que isso: os programas também ficam nas nuvens. Você recebe em sua tela o processador de textos, o editor de fotografias, enfim, o software que bem entender, inclusive de games.
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